Roy Rubin e Yoav Kutner - imagem: Divulgação

No primeiro capítulo do meu livro Lojas Virtuais com Magento, eu falo da história do Magento Commerce, mas nunca a coloquei aqui no blog. Acho que vale a pena, a título de registro histórico, testemunha ocular dos fatos, falar um pouco de como surgiu a plataforma, como ela cresceu, como atingiu o topo e como estagnou, especialmente até o lançamento do Magento 2.

Assim como tantas outras empresas da Califórnia, a Varien começou pequena, como uma produtora de websites e peças gráficas, encabeçada por Roy Rubin e Yoak Kutner, em 2001. Cinco anos depois, já com algum corpo, começaram a notar um aumento no número de pedidos por lojas virtuais, detectando uma tendência.

Nessa época, a empresa usava um software open source chamado OS Commerce (que para quem o conheceu pessoalmente, sabe, ele é uma bomba). Se tinha como vantagem o fato de ter uma base pronta, era muito complicado de expandir e com sérias falhas de segurança. A dúvida estava entre fazer uma plataforma nova do zero ou reescrever o OS Commerce.

A saída escolhida foi o caminho do meio. O time da Varien resolveu usar a base do Zend Framework para fazer uma nova plataforma de e-commerce, com a proposta de ser algo revolucionário, com muitas funcionalidades já na caixa e com espaço para agregar inúmeras outras.

Como o Roy Rubin falou em uma palestra no Magento Immagine (tenho a impressão que em 2011) que a ideia deles nunca foi fazer uma plataforma completa, justamente para que houvesse espaço para que outras empresas desenvolvessem soluções e ganhassem com isso. Olhando em perspectiva, isso acabou se tornando a faca de dois gumes do Magento: se temos muitos módulos disponíveis, é graças a esse modelo. Se temos muitos módulos porcos e mal escritos disponíveis, é graças à falta de um controle centralizado e de regras claras.

A origem do nome Magento não é clara: fico com a versão de que seja uma variação da cor magenta (que decorava o logotipo da Varien e a primeira versão do logotipo do Magento), mas há quem diga que é o personagem de um jogo, tipo RPG (e que sinceramente não guardei o nome quando me disseram e que nunca consegui comprovar).

A primeira etapa de desenvolvimento aconteceu ainda no ano de 2006, quando a base da plataforma foi construída. No começo de 2007, a Varien abriu o Blog do Magento, convidando a comunidade a conhecer a plataforma, dar opiniões e desenvolver módulos. Esse processo de lapidação ainda levou um ano e em 31/03/2008 o Magento foi finalmente lançado, em sua versão Community.

Os primeiros meses ainda seriam de muitas mudanças, ajustes e correções. Brinco que a primeira versão estável foi a 1.3, já que até a 1.2, as falhas eram constantes.

A evolução continuou com a introdução do novo tema Base/Default (na versão 1.4), o gerenciamento de índices e um novo Magento Connect (na 1.5) até que se chegasse na versão mais estável de todas, a 1.7, em 2012. Dali em diante, o Magento praticamente não mudou até a 1.9, quando veio o primeiro tema responsivo e o mecanismo de seleção de cores.

Paralelamente a isso, a Varien lançou em 2009 a Magento Enterprise, uma versão paga, destinada a lojas de maior porte, contando com suporte da empresa e com o desenvolvimento por empresas parceiras, as Certified Partners. Isso chamou a atenção do PayPal, que comprou metade da Varien ainda em 2010, passando a se chamar Magento Inc.

Os anos de 2009 a 2011 foram de grande crescimento para a empresa, com a entrada de novos profissionais, o lançamento do Magento Go e do Magento Mobile, os eventos (Magento Imagine e Magento Live). Paralelo a isso, surgiam eventos à parte como o Bargento, o Magento Developers Paradise e o Meet Magento.

Nesse período, a comunidade era ativa e engajada. Havia um grande suporte por parte da Magento – não em dinheiro, isso nunca saiu de lá, 😛 – mas em estrutura, apoio logístico e divulgação. Nesse momento, o Magento finalmente ganhou a grande cena, passando a ser a plataforma líder em lojas virtuais no mundo, posto que ocupou até 2014.

Em algum ponto no ano de 2013, a curva começou a ser revertida e entrou em uma tendência de estabilidade. Depois da compra do total da empresa pelo eBay (2011), como parte da estratégia de lançar o novo X.Commerce, o ritmo da Magento Inc. começou a diminuir, culminando na saída de Yoav Kutner (Roy Rubin ainda ficaria mais um tempo na empresa, antes de se desligar). A maior parte dos dirigentes, com uma cabeça aberta e pró-comunidade começou a deixar seus cargos, sendo substituída por executivos com a menta mais fechada e menos dispostos a conversar e discutir rumos.

O Magento 2 virava motivo de piada, por nunca ser lançado, sempre sendo adiado, e os concorrentes começavam a se mexer. O PrestaShop avançou e se tornou um sistema mais completo e amigável que o Magento, enquanto Shopify e Big Commerce avançaram na fatia de lojas sob demanda, pagas por mês. O tiro de misericórdia, entretanto, veio de onde menos se esperava, na forma de um plugin para WordPress chamado WooCommerce.

O fim dessa história vocês conhecem: em dezembro de 2015, a Magento Inc. foi vendida pelo eBay para um fundo de investimentos, ao mesmo tempo em que o M2 finalmente ganhava sua primeira versão estável.

A pergunta que fica é: por que depois de tanto tempo o Magento 1 ainda é visto como uma opção para uma loja virtual? Eu mesmo sigo recomendando aos clientes que não usem o Magento 2 em lojas estáveis, apenas em projetos pequenos, sem compromisso. A resposta é simples: ele foi precursor em sua época e desde o começo trazia funcionalidades que muitas plataformas mais novas não trazem. O pecado do Magento foi não ter evoluído, isso não quer dizer que ele não serve mais, apenas que precisa de uns ajustes. Vida longa ao Magento!


André Gugliotti

André Gugliotti é uma das referências em Magento no Brasil, autor dos livros "Lojas Virtuais com Magento", "Temas em Magento" e "Módulos para Magento". Nesse blog, ele fala sobre e-commerce e marketing digital, ensinando como montar e gerenciar sua loja virtual.

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